Pela Nação Rubro-Negra, Por um Futebol Sem Racismo: A Luta da Educafro na Justiça
Pela Nação Rubro-Negra, Por um Futebol Sem Racismo: A Luta da Educafro na Justiça
A Nação Rubro-Negra é, reconhecidamente, a maior do mundo. Uma torcida plural, apaixonada e que carrega em sua maioria as cores e a força do povo negro. É por respeito a essa torcida, e em defesa de toda a sociedade, que a Educafro (Educação e Cidadania de Afrodescendentes e Carentes) vem a público explicar e convocar a todos para a luta contra o racismo estrutural no futebol, materializada na Ação Civil Pública movida contra o Clube de Regatas do Flamengo.
Não se trata de um ataque ao clube ou à sua gloriosa história, mas de um chamado contundente à responsabilidade. O futebol, como maior manifestação cultural do país, não pode ser um espaço para a perpetuação de práticas discriminatórias. O silêncio e a omissão diante do racismo são coniventes e igualmente violentos.
A ação, que pede uma indenização de R$ 100 milhões, foi motivada por uma série de eventos que demonstram uma cultura institucional que, no mínimo, negligencia a gravidade do racismo. O estopim foi a fala de cunho eugenista do diretor da base do Flamengo, Alfredo Almeida, em julho de 2025, que afirmou que “a África tem valências físicas” enquanto “a parte mental está em outras zonas da Europa”. Uma declaração que ecoa as mais ultrapassadas e ofensivas teses raciais, inadmissível em qualquer contexto, ainda mais vinda de um formador de jovens atletas.
Contudo, este não é um caso isolado. A ação da Educafro aponta um padrão preocupante:
- Recusa em assinar manifestos: A negativa do clube em se juntar a outras equipes da Liga do Brasil (Libra) em um manifesto antirracista.
- Apoio a discursos brandos: A classificação como "adequado" do discurso do presidente da Conmebol, que minimizou a responsabilidade da entidade no combate ao racismo.
- Um histórico de invisibilização: A forma como ídolos negros, fundamentais na construção da história vitoriosa do clube, como Adílio e Andrade, são frequentemente subvalorizados em comparação a outros atletas.
A repercussão do caso mostra a urgência do debate.
O que diz a imprensa e o objetivo da ação
O jornal O Estado de S. Paulo, em matéria de Rodrigo Sampaio, detalhou os fundamentos do processo, dando voz ao nosso diretor-presidente, Frei David. Reproduzimos parcialmente a reportagem para total transparência:
Educafro processa Flamengo por racismo institucional e pede R$ 100 milhões em indenização Entidade aponta falas eugenistas de diretor e omissões do clube e quer destinar valor a projetos de inclusão e apoio à comunidade afro-brasileira; clube não se manifesta
A Educação e Cidadania de Afrodescendentes e Carentes (Educafro) entrou com uma ação civil pública na Justiça do Rio contra o Flamengo, citando racismo institucionalizado e omissões corporativas no combate à discriminação racial. O processo foi registrado no dia 21 de agosto e a entidade pede uma indenização de R$ 100 milhões. [...]
A ação foi motivada pela declaração do diretor da base do Flamengo, o português Alfredo Almeida, em julho de 2025, que afirmou que “a África tem valências físicas” enquanto “a parte mental está em outras zonas da Europa”, consideradas de cunho racista e eugenistas. [...]
Ao Estadão, Frei David, diretor-presidente da Educafro, afirmou que a ação tem um viés pedagógico e que a entidade vai novamente à Justiça em caso de racismo envolvendo outros clubes.
“Acompanhamos a questão do racismo no futebol brasileiro e internacional há 11 anos, desde 2014, e percebemos que quase nada está mudando. As ações atuais, como faixas e frases em camisetas, são consideradas insuficientes e não dá mais para brincar com a luta contra o racismo”, inicia.
“O Flamengo tem a maior torcida com pessoas negras em sua composição no Brasil. A ação é uma defesa dessa comunidade, que muitas vezes é tímida para falar a sua dor. É um processo profundamente pedagógico para levar a comunidade afro-brasileira a discutir e enfrentar o problema do racismo com profundidade”, completa.
O que é uma Ação Civil Pública e para onde vai o dinheiro?
É fundamental esclarecer: a Ação Civil Pública é um instrumento jurídico que visa proteger os direitos de toda a sociedade, não de um indivíduo ou de uma organização. O valor de R$ 100 milhões, caso a Justiça decida a nosso favor, não será destinado à Educafro.
Esses recursos são depositados em um fundo gerido pelo Ministério Público e devem, obrigatoriamente, ser investidos em projetos que visem reparar o dano causado à coletividade. Nossa sugestão, e trabalharemos para isso, é que o valor seja usado para financiar:
- Bolsas integrais para crianças e jovens negros em escolinhas de futebol do próprio Flamengo e de clubes parceiros em todo o Brasil.
- Bolsas de moradia e alimentação para estudantes negros de universidades públicas e do Prouni, fomentando a educação como ferramenta de transformação.
O objetivo não é punir por punir, mas transformar a realidade. É fazer com que a reparação pelo dano do racismo se converta em oportunidade e inclusão para a comunidade que é sistematicamente atacada.
Um Chamado à Ação: O Futebol Precisa Mudar
Faixas, hashtags e discursos protocolares não bastam mais. A luta antirracista exige ações concretas, políticas internas claras e tolerância zero com a discriminação. A presente ação se ampara em bases legais sólidas, como o Decreto nº 10.932/2022, que promulgou a Convenção Interamericana Contra o Racismo, e que obriga empresas e instituições a implementarem planos de inclusão.
Convocamos a imensa Nação Rubro-Negra a pressionar seu clube. Cobrem dos dirigentes uma postura ativa, transparente e verdadeiramente comprometida com a igualdade. Um clube gigante como o Flamengo deve ser líder não apenas nos gramados, mas também na luta pelos direitos humanos.
Conclamamos também os demais clubes, as federações e a CBF a olharem para este caso como um ponto de inflexão. O racismo não pode mais ser tratado como um "caso isolado". É estrutural e precisa ser combatido em sua raiz.
A Educafro seguirá vigilante e atuante, usando todas as ferramentas legais para garantir que o futebol brasileiro seja um espaço de respeito para todos. Esta luta é por Vini Jr., por Aranha, por todos os atletas que sofreram e sofrem com o racismo. É pela torcedora e pelo torcedor negro que amam seu clube e merecem ser respeitados.
A bola está com a Justiça, mas a pressão por mudança é papel de todos nós.
Referências e Para Saber Mais:
- Matéria do Estadão: SAMPAIO, Rodrigo. Educafro processa Flamengo por racismo institucional e pede R$ 100 milhões em indenização. O Estado de S. Paulo, 27 ago. 2025.
- Convenção Interamericana Contra o Racismo: Link para o texto do Decreto nº 10.932/2022 no site do Planalto
- O que é Ação Civil Pública: Link para o texto CNJ Serviço: Entenda a diferença entre Ação Popular e Ação Civil Pública
Promotor diz que réu negro não seria criminoso se tivesse levado chibatadas
Fonte: Públicação original Perfil prof.marinhosoares
Promotor no RS Sugere "Chibatadas" a Réu Negro, Expondo o Racismo Estrutural no Sistema de Justiça
Um episódio de racismo explícito, vindo de quem deveria ser um guardião da lei, chocou o Brasil e viralizou nas redes sociais, levantando um intenso debate sobre a presença do preconceito racial nos tribunais do país. Durante uma sessão do Tribunal do Júri em São José do Norte (RS), um promotor de justiça sugeriu que um réu negro não estaria sendo julgado por um crime se tivesse recebido "chibatadas na infância".
A fala, carregada de um simbolismo que remete diretamente ao período da escravidão, não apenas ultrajou os presentes, mas também serviu como um amargo lembrete de que o racismo estrutural ainda permeia as instituições que deveriam garantir a igualdade de todos perante a lei.
Conforme noticiado pelo portal UOL, a repercussão do caso foi imediata:
Promotor diz que réu negro não seria criminoso se tivesse levado chibatadas
Tiago Minervino, Colaboração para o UOL, em São Paulo, 30/08/2025
"A Corregedoria do Ministério Público do Rio Grande do Sul instaurou procedimento para apurar acusação de racismo contra um promotor que sugeriu durante audiência que um réu negro não cometeria crimes se tivesse recebido 'chibatadas na infância'. A fala racista ocorreu em sessão do Tribunal do Júri da cidade de São José do Norte, na última quarta-feira. Na ocasião, o promotor teria dito que 'se o réu tivesse recebido chibatadas quando criança, tal...'"
O Crime e a Lei: O Que Diz a Legislação Brasileira
A declaração do promotor Jaimes dos Santos Gonçalves, como foi posteriormente identificado, não é apenas uma "fala infeliz", mas uma conduta que pode ser enquadrada criminalmente. A legislação brasileira é robusta no combate ao racismo:
- Crime de Racismo (Lei nº 7.716/1989): Esta lei define os crimes resultantes de preconceito de raça ou de cor. A conduta de praticar, induzir ou incitar a discriminação ou preconceito é crime, sendo inafiançável e imprescritível.
- Injúria Racial (Art. 140, § 3º do Código Penal): Originalmente, a injúria racial se referia à ofensa à honra de um indivíduo utilizando elementos de raça, cor, etnia, etc. Contudo, a Lei 14.532/23 equiparou a injúria racial ao crime de racismo. Isso significa que, mesmo que a ofensa seja dirigida a um indivíduo específico, ela é tratada com a mesma gravidade do racismo, sendo também um crime inafiançável e que não prescreve.
A fala do promotor, no exercício de sua função pública, agrava a situação, pois mina a confiança da população no sistema de justiça e sugere que a cor da pele de um cidadão pode influenciar a forma como ele é visto ou julgado pelo Estado. A Corregedoria do Ministério Público gaúcho já instaurou um procedimento administrativo para apurar a conduta, que pode resultar em sanções disciplinares como advertência, suspensão ou até a perda do cargo.
Um Padrão Recorrente: O Racismo nos Tribunais
O caso de São José do Norte está longe de ser um incidente isolado. Relatórios e estudos acadêmicos vêm, há anos, apontando para a existência de um racismo institucionalizado no sistema de justiça brasileiro. Uma pesquisa recente da Universidade de São Paulo (USP) e da Universidade Federal Fluminense (UFF) concluiu que o sistema "produz, reproduz e institucionaliza o racismo estrutural".
Essa realidade se manifesta de diversas formas: na abordagem policial seletiva, na desconfiança com a palavra de testemunhas negras, em sentenças que usam a raça como um fator para valorar negativamente a conduta de um réu e em falas como a do promotor gaúcho, que desumanizam o indivíduo e evocam um passado de violência brutal.
Repercussão e a Resposta da Sociedade Civil
A reação à fala do promotor foi imediata e contundente. O vídeo que acompanha esta matéria, gravado por Professor Marinho Soares, liderança da comunidade negra e da Educafro Bahia que assim como a Educafro Brasil, uma das mais importantes organizações do movimento negro no país, ilustra a indignação e a mobilização gerada pelo caso. No vídeo, o ativista classifica a declaração como uma "sandice" e convoca a sociedade a agir, anunciando a intenção da organização de entrar com uma ação coletiva contra o Ministério Público do Rio Grande do Sul por ato racista.
Essa mobilização é fundamental, pois joga luz sobre o problema e pressiona as instituições a agirem com a celeridade e a seriedade que o tema exige.
Como Combater o Racismo no Sistema de Justiça?
Para que casos como este não se repitam, são necessárias medidas profundas e coordenadas. A solução passa por um caminho multifacetado:
- Letramento Racial Obrigatório: É imperativo que todos os agentes do sistema de justiça — juízes, promotores, defensores, delegados e servidores — passem por uma formação contínua e aprofundada sobre relações étnico-raciais no Brasil, compreendendo a história e as consequências do racismo.
- Responsabilização Efetiva: A apuração de condutas racistas precisa ser rigorosa e transparente, com punições exemplares que demonstrem tolerância zero com qualquer tipo de discriminação.
- Aumento da Diversidade: A baixa representatividade de negros e negras em cargos de poder no judiciário e no Ministério Público é um fator que perpetua visões de mundo hegemônicas e preconceituosas. A ampliação e o fortalecimento de políticas de cotas são essenciais para criar um sistema mais plural e justo.
- Vigilância Social: A sociedade civil e a imprensa têm um papel crucial em denunciar e cobrar respostas para esses abusos, garantindo que não caiam no esquecimento.
O episódio da "chibatada" é um doloroso sintoma de uma doença social que o Brasil ainda precisa curar. Tratar a fala do promotor não como um desvio, mas como a manifestação de um problema estrutural, é o primeiro passo para garantir que a justiça seja, de fato, cega à cor da pele.
Edição: As posições descritas não representam formalmente a entidade Educafro Brasil, a redação se limita a reproduzir parcialmente conteúdos relacionados a temas em que a entidade atua livremente.
PORTAL DO BOLSISTA - BOLSAS DE ESTUDO PARA OS NOSSOS FILHO(A)S EM TODOS OS MUNICÍPIOS DO BRASIL
BOLSAS DE ESTUDO PARA OS NOSSOS FILHO(A)S EM TODOS OS MUNICÍPIOS DO BRASIL
Organizem-se em grupo de 10 mães/pais aí no seu bairro (traga-as aqui para ESTE grupo) e escolha o colégio de seu bairro que seja o mais apropriado para lutarmos, juntos, por bolsas! Vamos nessa?
Pesquise aqui todos os colégios de ensino fundamental/médio/superior que são obrigados a fornecerem bolsas para afros e outros pobres, e descontá-las nos impostos governamentais. Entenderam? Não é doação da instituição! É um direito nosso!!!!
A Voz Profética de James Baldwin: Um Farol Para a Luta Antirracista no Brasil de Hoje
A Voz Profética de James Baldwin: Um Farol Para a Luta Antirracista no Brasil de Hoje
Em um mundo que insiste em categorizar e diminuir, a voz de James Baldwin ressoa com uma clareza incisiva e uma urgência atemporal. Para nós, da Educafro Brasil, revisitar a vida, a obra e as ideias deste gigante da literatura e do pensamento crítico não é apenas um exercício de memória, mas uma ferramenta poderosa para a luta diária por uma educação e uma sociedade verdadeiramente antirracistas. Baldwin não foi apenas uma testemunha de seu tempo; ele nos ofereceu um espelho para compreendermos as complexas e dolorosas estruturas do racismo que, embora em um contexto diferente, ainda definem a realidade de milhões de jovens negros e negras no Brasil.
Vitória da Luta Antirracista: TRT-MS Anula Concurso por Descumprimento da Lei de Cotas
Imagem gerada por IA - Gemini Google 20/08/2025 12h30
Vitória da Luta Antirracista: TRT-MS Anula Concurso por Descumprimento da Lei de Cotas
A anulação de um concurso público nunca é uma notícia simples, mas no caso do Tribunal Regional do Trabalho da 24ª Região do Mato Grosso do Sul (TRT-MS), a decisão representa uma vitória crucial para o movimento negro e para a defesa das políticas de ação afirmativa no Brasil. É um lembrete contundente de que a lei deve ser cumprida e de que a vigilância da sociedade civil e das instituições fiscalizadoras é fundamental para garantir a equidade racial no acesso aos cargos públicos.
A Educafro Brasil, que luta incansavelmente pela inclusão da população negra e pobre na educação superior e no mercado de trabalho qualificado, celebra esta decisão e parabeniza a atuação do Ministério Público Federal (MPF). Casos como este reforçam a importância da nossa missão e nos dão mais força para seguir adiante.
BETs na Mira da Justiça: Entenda a Ação Judicial Contra a Pixbet
Com base nos documentos judiciais de uma Ação Civil Pública movida contra a gigante das apostas online, PIXBET, a EDUCAFRO Brasil traz um alerta urgente para nossa comunidade. O que parece ser apenas uma forma de entretenimento e a promessa de dinheiro fácil é, na verdade, um sistema perigoso que tem viciado e causado danos irreparáveis a milhares de crianças e adolescentes, com um impacto devastador sobre as famílias negras e de baixa renda.
Esta não é apenas uma questão legal; é uma batalha pela proteção do futuro da nossa juventude.
BETs na Mira da Justiça: Entenda a Ação Judicial Contra a Pixbet
O documento em anexo faz parte do processo judicial nº 0708083-16.2024.8.07.0013, uma Ação Civil Pública movida por entidades de direitos humanos, como o Centro de Defesa dos Direitos Humanos Pe. Ezequiel Ramin, contra a PIXBET SOLUCOES TECNOLOGICAS LTDA. A ação, com um valor de causa de R$ 500 milhões, busca a reparação por danos morais coletivos devido à deliberada falta de mecanismos eficazes para impedir que crianças e adolescentes acessem e se viciem em jogos de azar online.
Os principais argumentos apresentados na petição são:
- Danos Já Consolidados: A ação argumenta que, mesmo com a criação de novas regulamentações em 2024 que exigem biometria facial, o dano a milhões de jovens já foi feito. Por anos, empresas como a Pixbet lucraram permitindo o acesso irrestrito de menores às suas plataformas.
- A Fragilidade das Novas Regras: O processo demonstra, com provas, que as novas medidas são insuficientes e que menores de idade continuam utilizando as plataformas. Um exemplo chocante é o do influenciador "Boca de 09", de 16 anos, que foi filmado apostando ao vivo em dezembro de 2024, meses após a implementação das supostas barreiras.
- Vulnerabilidade e Consequências Graves: A petição reúne estudos e reportagens que comprovam o impacto alarmante do jogo no público com menos de 18 anos. Dados mostram que 30% dos jovens entre 10 e 17 anos já jogaram, e 68% deles o fizeram no último mês. A exposição às apostas online incentiva a dependência, a impulsividade, o descontrole financeiro e pode levar a quadros graves de ansiedade, depressão e até suicídio.
- Publicidade Agressiva e Ilegal: A ação destaca que a publicidade das "bets" é onipresente, especialmente em ambientes esportivos, e utiliza a paixão por clubes e ídolos para atrair o público jovem. Além disso, a Secretaria Nacional do Consumidor (Senacon) já havia notificado a Pixbet e outras 16 empresas para prestar esclarecimentos sobre suas políticas de marketing e proteção de menores.
Fonte: Homem adormece apostando no tigrinho após um dia de trabalho exaustivo - Facebook
Aprofunde-se no Assunto: Acesse o Documento do Processo
Para que toda a nossa comunidade entenda a gravidade da situação com total transparência, disponibilizamos a petição judicial na íntegra. Leia, analise e compreenda as estratégias usadas por essas empresas e a luta que está sendo travada nos tribunais para proteger nossos jovens.
[Link para Download do PDF do Processo 0708083-16.2024.8.07.0013]
Por Que a Luta Contra as BETs é Uma Causa do Povo Negro?
A ameaça das apostas online não atinge a todos da mesma forma. Para a comunidade negra e periférica, ela representa uma nova e poderosa ferramenta de aprisionamento e exploração financeira.
- Exploração da Vulnerabilidade Econômica: A promessa de "dinheiro rápido" é uma armadilha que se torna ainda mais sedutora para jovens que enfrentam o racismo estrutural e a falta de oportunidades no mercado de trabalho. As bets vendem uma ilusão de ascensão social que, na realidade, aprofunda o ciclo da dívida e da pobreza.
- Saúde Mental como Alvo: A população negra já enfrenta barreiras significativas no acesso à saúde mental. O vício em jogo, que gera ansiedade, estresse e depressão, agrava esse quadro, criando uma crise silenciosa dentro de nossas casas.
- Desvio do Foco na Educação: Como relatado no processo, jovens começam a questionar a necessidade de estudar, acreditando que podem "ganhar dinheiro" com apostas. Isso ataca diretamente a missão da EDUCAFRO, que vê na educação o caminho para a libertação e a construção de um futuro sólido e digno.
Como Todos Podem Ajudar a Proteger Nossa Comunidade
Esta luta é de todos nós. A EDUCAFRO Brasil convoca cada membro da nossa comunidade a se engajar ativamente:
- Debata em Comunidade: Converse sobre os perigos das apostas online com seus filhos, familiares, amigos e nos seus grupos da igreja, do bairro e da escola. A conscientização é a primeira linha de defesa.
- Denuncie a Publicidade Ilegal: Se você ver publicidade de "bets" sendo direcionada a crianças e adolescentes, especialmente por influenciadores, denuncie. Envie os casos para o e-mail: denunciasbets@educafro.org.br.
- Exija Responsabilidade: Pressione as autoridades e as empresas de tecnologia. As plataformas que lucram com anúncios e os influenciadores que promovem esses jogos precisam ser responsabilizados.
- Promova a Educação Financeira: Vamos ensinar aos nossos jovens sobre o valor do trabalho, do planejamento financeiro e os perigos do endividamento. O conhecimento é a melhor arma contra as falsas promessas.
Amplie Sua Visão: Referências Para Entender o Problema
Bibliografia:
- "Nação Dopamina: Por que o excesso de prazer está nos deixando infelizes e o que podemos fazer para mudar" – Dra. Anna Lembke. Essencial para entender como o vício funciona no cérebro e a busca incessante por estímulos na era digital.
- "Psicologia do Dinheiro" – Morgan Housel. Oferece uma visão clara sobre como nossas emoções e vieses influenciam nossas decisões financeiras, um conhecimento crucial para combater a lógica do jogo.
Audiovisual:
- "O Dilema das Redes" (Netflix): Documentário que expõe como os algoritmos das redes sociais são projetados para manipular o comportamento humano e gerar engajamento a qualquer custo, uma tática amplamente usada pelas casas de apostas.
- Reportagem do Fantástico sobre o "Jogo do Tigrinho": Busque por matérias investigativas que mostram o esquema por trás dos influenciadores e as consequências devastadoras para as vítimas desses jogos de azar.
Conclusão: Uma Luta Pela Vida e Pelo Futuro
A ação judicial contra a Pixbet é mais do que uma disputa legal; é um retrato da luta de Davi contra Golias. De um lado, corporações bilionárias com estratégias de marketing predatórias. Do outro, a sociedade civil organizada lutando para proteger o bem mais valioso que temos: nossas crianças e adolescentes.
Não podemos nos omitir. A omissão hoje custará o futuro de uma geração amanhã. A EDUCAFRO Brasil permanecerá na linha de frente, denunciando, mobilizando e exigindo justiça. Convocamos você a se juntar a nós. A proteção da nossa comunidade depende da ação de cada um.
"Identidade", de Jorge Aragão: A Letra que Desmascarou o Elevador Social do Brasil
"Identidade", de Jorge Aragão: A Letra que Desmascarou o Elevador Social do Brasil
A história da música brasileira é, em sua essência, uma história de resistência negra. Desde os batuques e cantos que ecoavam nas senzalas como forma de comunicação e sobrevivência, passando pela criação do samba nos quintais e terreiros do Rio de Janeiro como um ato de afirmação cultural, a musicalidade afro-brasileira sempre foi mais do que arte: foi uma ferramenta para lutar, denunciar e existir.
Dentro dessa poderosa linhagem, poucas canções conseguiram traduzir com tanta precisão e genialidade a complexidade do racismo no Brasil como "Identidade", de Jorge Aragão. Lançada no início dos anos 80, a música, conhecida como "Elevador", é um marco do samba como crônica social. Para nós, da Educafro, que trabalhamos pela educação como ferramenta de libertação, analisar esta letra é um exercício fundamental de letramento racial.
A Composição: A Dor Real que Virou Hino
A força de "Identidade" começa em sua origem: a canção nasceu de uma experiência real de racismo vivida por Jorge Aragão nos anos 70. Ao entrar no elevador social de um hotel, foi abordado por uma senhora branca que, presumindo ser ele o ascensorista, disparou o "elogio" que se tornaria o cerne da música: "Você é um preto de alma branca".
Essa frase é a síntese do racismo cordial: uma violência disfarçada de afeto, que elogia o indivíduo negro ao mesmo tempo em que rebaixa sua comunidade, tratando qualidades como educação como inerentemente brancas. Aragão, como herdeiro de uma tradição de cronistas do cotidiano, transformou essa dor em uma denúncia poética e universal.
Do Terreiro à MPB: O Samba Como Ferramenta de Denúncia
A canção de Aragão surge em um momento crucial. Enquanto a MPB dos anos 60 e 70, com gigantes como Gilberto Gil e Elza Soares, já incorporava a herança da música negra e trazia novas temáticas, o samba vivia sua própria revolução. Artistas como Jorge Aragão, parte da geração do Fundo de Quintal, sofisticaram a lírica do gênero, provando que o samba de raiz também era um espaço potente para a reflexão crítica, sem perder sua conexão com o povo.
"Identidade" se encaixa perfeitamente nessa trajetória histórica. Ela é a prova de que o samba, nascido como forma de resistência cultural nas comunidades negras do final do século XIX, continuava, quase cem anos depois, a cumprir seu papel de ser a voz de seu povo, denunciando as novas e velhas formas de opressão.
Diálogos e Conexões: "Identidade" na Encruzilhada da Arte Negra
A reflexão de Jorge Aragão não está isolada; ela dialoga com uma vasta produção cultural e intelectual negra.
- Pensadores: A letra ecoa o pensamento de Lélia Gonzalez, que teorizou sobre o "racismo por denegação", e Frantz Fanon em "Pele Negra, Máscaras Brancas", que dissecou a psicologia da assimilação. A metáfora do elevador é a representação perfeita do que Silvio Almeida define como Racismo Estrutural.
- Cinema e Legado: A cordialidade que esconde o terror, tema da música, é a mesma explorada em "Corra!". E a linhagem de denúncia e afirmação de "Identidade" não parou nos anos 80. A tocha foi passada para o rap, e hoje, quando ouvimos Emicida, Criolo ou Karol Conká, estamos ouvindo ecos da mesma coragem de Jorge Aragão: a de usar a música popular para dissecar as feridas do Brasil.
Para Aprofundar a Escuta: Um Guia de Referências
Compreender a profundidade de "Identidade" é uma jornada. Deixamos aqui um mapa com referências para quem deseja ir além.
Músicas:
- "A Carne" - Elza Soares
- "Olhos Coloridos" - Sandra de Sá
- "Capítulo 4, Versículo 3" - Racionais MC's
- "Boa Esperança" - Emicida
- "Isso Ninguém Me Tira" - Fundo de Quintal
Livros:
- "Pele Negra, Máscaras Brancas" - Frantz Fanon
- "Pequeno Manual Antirracista" - Djamila Ribeiro
- "Racismo Estrutural" - Silvio Almeida
- "Por um Feminismo Afro-Latino-Americano" - Lélia Gonzalez
Filmes:
- "A Negação do Brasil" (2000) - Dir. Joel Zito Araújo
- "AmarElo - É Tudo Pra Ontem" (2020) - Dir. Fred Ouro Preto
- "Doutor Gama" (2021) - Dir. Jeferson De
Podcasts:
- "Mano a Mano" (Spotify)
- "Angu de Grilo" (Flávia Oliveira e Isabela Reis)
- "Afetos" (Gabi Oliveira e Karina Vieira)
Exposições e Projetos:
- Museu Afro Brasil (São Paulo): Acervo essencial sobre a história e a arte negra.
- Projeto Afro (projetoafro.com): Plataforma de mapeamento de artistas negros contemporâneos.
Conclusão
"Identidade" não é um evento isolado, mas um brilhante capítulo no longo livro da resistência musical negra no Brasil. Ela nos mostra que, da senzala ao streaming, a luta é a mesma: pelo direito de existir, de ocupar espaços e de celebrar quem somos. Que a letra de Jorge Aragão sirva como ferramenta de debate e orgulho, reafirmando sempre: não nos ajuda, só nos faz sofrer, nem resgata nossa identidade.
Redação: Reprodução parcial do site Afro cultura: https://afrocultura.com.br/a-presenca-negra-na-musica-brasileira-uma-historia-de-resistencia-e-influencia/
EDUCAFRO NEWS edição: 1000 - Setembro 2025

[CLIQUE AQUI] Para baixar a edição de Setembro 2025 número 1000 da EDUCAFRO NEWS
Fique por Dentro das Oportunidades: Baixe a Edição Histórica do EDUCAFRO NEWS!
A edição comemorativa de número 1000 do **EDUCAFRO NEWS** já está disponível e repleta de informações cruciais para a comunidade negra. Este marco histórico do nosso jornal continua a missão de fortalecer e conectar nosso povo por meio de oportunidades de transformação.
Mais que Papel, um Povo em Chamas: O Crime de Ruy Barbosa, o Apagamento e a Luta por Reparação
Mais que Papel, um Povo em Chamas: A Fogueira de Ruy Barbosa, as Histórias que Sobreviveram e a Luta por Reparação
Você já se perguntou por que é tão difícil para uma pessoa negra no Brasil traçar sua árvore genealógica? Por que os nomes de nossos heróis soam como lendas distantes e nossas conquistas parecem notas de rodapé na história do país? Esse vazio não é um acidente. Ele é um projeto. E um dos atos fundadores desse projeto tem nome, data e um responsável: a queima dos arquivos da escravidão, ordenada em 14 de dezembro de 1890 pelo então ministro da Fazenda, Ruy Barbosa.
Muitos aprenderam a celebrar Ruy Barbosa como o "Águia de Haia", mas o que a história oficial raramente conta é que ele foi o arquiteto de um dos maiores crimes contra a memória do povo negro. Em despacho oficial, Ruy Barbosa justificou a ordem de destruir os documentos afirmando que a República era “obrigada a destruir esses vestígios por honra da pátria”. Contudo, essa tentativa de "apagar a mancha" da escravidão não passou sem críticas na época. O deputado Francisco Coelho Duarte Badaró protestou no Congresso, afirmando: “não devemos fazer o papel de iconoclastas, devemos ter um arquivo. (...) Pelo fato de mandar queimar grande número de documentos para a história do Brasil, a vergonha nunca desaparecerá”. A imprensa também reagiu. O jornal O Estado de S. Paulo, em 21 de dezembro de 1890, questionou: “Eu não chego mesmo a comprehender o direito que tenha um ministro de destruir documentos que, mais do que aos archivos das repartições, pertendem à história.”
O alvo da fogueira, como demonstra a HQ “Ruy Barbosa e a queima dos arquivos da escravidão” (publicada pelo The Intercept Brasil), não era a vergonha do país, mas a memória do nosso povo.
Anatomia de um Crime Contra a Memória e a Identidade
A queima dos arquivos foi um crime com múltiplas e devastadoras consequências:
- Epistemicídio e Roubo da Identidade: Ao ordenar a destruição dos registros, Ruy Barbosa cometeu o assassinato deliberado do conhecimento, o epistemicídio. Ele destruiu a prova material que poderia ajudar milhões a traçar suas origens e compreender a trajetória de suas famílias.
- Obstáculo à Reparação: A consequência mais grave foi inviabilizar o direito à reparação para as vítimas. Sem os registros, tornou-se exponencialmente mais difícil para os ex-escravizados e seus descendentes provarem o tempo de trabalho forçado.
- Crime de Lesa-Humanidade (em seus efeitos): A escravidão é um crime contra a humanidade. O ato de destruir deliberadamente as provas de um crime desta magnitude é uma continuação do próprio crime, garantindo a impunidade dos perpetradores e perpetuando o dano sobre as vítimas.
As Histórias que Ruy Barbosa Não Conseguiu Queimar
Felizmente, a tentativa de apagar nossa história não foi totalmente bem-sucedida. Uma pesquisa da Unesp em Araraquara (SP) revelou uma vasta coleção de escrituras de compra e venda de escravizados do século XIX, resultando no livro “A História Comprovada: fatos reais e as dores da escravização araraquarense”. A obra demonstra que, apesar da ordem de Ruy Barbosa, documentos cruciais sobreviveram. O antropólogo Dagoberto Fonseca, professor da Unesp, destaca a importância do achado, considerado o maior acervo do gênero na América Latina: “É de suma importância tornar pública essa documentação. (...) só a partir daí buscar reescrever a história do Brasil”.
Onde Encontrar Nossa História: Um Guia para o Resgate da Memória
A busca por nossa história é uma jornada possível e necessária. Existem diversos espaços e ferramentas dedicados a preservar e difundir a memória afro-brasileira:
- Museus e Exposições:
- Museu Afro Brasil Emanoel Araujo (São Paulo, SP): Localizado no Parque Ibirapuera, é um espaço fundamental que abriga um acervo com mais de 8 mil obras, entre pinturas, esculturas, fotografias e documentos que celebram a arte e a história africana e afro-brasileira.
- Museu da História e da Cultura Afro-Brasileira - MUHCAB (Rio de Janeiro, RJ): Situado na Pequena África, celebra a herança africana e promove exposições, debates e atividades educativas.
- Museu do Homem do Nordeste (Recife, PE): Possui importantes acervos sobre os ciclos econômicos do açúcar e a presença africana na formação da região.
- Locais de Memória:
- Cais do Valongo (Rio de Janeiro, RJ): Sítio arqueológico e Patrimônio Mundial da UNESCO, foi o principal porto de entrada de africanos escravizados nas Américas. Visitar o local é uma experiência profunda de conexão com a história da diáspora.
- Pelourinho (Salvador, BA): O centro histórico de Salvador é um museu a céu aberto, onde cada rua conta uma parte da história da resistência e da cultura negra no Brasil.
- Referências Bibliográficas e Audiovisuais:
- Livros: "Um Defeito de Cor" (Ana Maria Gonçalves); "Torto Arado" (Itamar Vieira Junior); "Pequeno Manual Antirracista" (Djamila Ribeiro).
- Filmes e Documentários: "Doutor Gama" (2021); "Medida Provisória" (2022); "Guerras do Brasil.doc - Ep. Escravidão e Racismo" (Disponível em streaming).
- Podcasts: "História Preta", "Projeto Querino".
O Arcabouço Legal e a Luta Contínua
A luta do movimento negro construiu um arcabouço legal que serve como escudo e como base para a reparação, incluindo a Constituição de 1988, a Lei 10.639/03, o Estatuto da Igualdade Racial, a Convenção Interamericana contra o Racismo e a jurisprudência do STF (como na ADPF 186). A vitória mais recente, o acordo histórico da Educafro com a AGU (2024), que resultou no primeiro pedido formal de desculpas do Estado brasileiro pela escravidão, é um marco que abre caminho para novas conquistas.
O Movimento como Força de Restauração: Como Fazer Parte
Se o apagamento foi um projeto de Estado, a restauração é uma tarefa de nossos movimentos. A Educafro, ao criar "Quilombos de Memória" e lutar por reconhecimento legal, pavimenta o caminho. Você pode fazer parte:
- Apoie a pesquisa histórica: Divulgue iniciativas como a da Unesp.
- Seja o historiador da sua família: Converse com os mais velhos, explore arquivos e utilize a tecnologia para buscar suas raízes.
- Posicione-se politicamente: Cobre políticas de reparação e apoie organizações como a Educafro.
A fogueira de 1890 foi alta, mas não consumiu todas as evidências da nossa história. A luta pela memória e pela reparação continua, fortalecida por cada novo documento encontrado e por cada voz que se levanta para exigir justiça.
Este artigo foi produzido a partir da unificação e reprodução parcial de informações contidas nos textos: "A destruição dos documentos sobre a escravidão", publicado em O Estado de S. Paulo - Acervo; e "As histórias que Ruy Barbosa não conseguiu queimar", publicado no Jornal da Unesp.
Redação - Este artigo não representa posições da instituição Educafro Brasil diretamente, os artigos se referem a reprodução parcial de artigos e repercussões públicas.
A Fênix Negra e a Liberdade Frágil - Rememorando O Abolicionista Luiz Gama
Agosto é o mês em que celebramos a memória do nosso patrono, Luiz Gama, um farol de estratégia e coragem. Para honrar seu legado, iniciamos hoje uma série de artigos que, nesta edição, caminhará lado a lado com uma das mais importantes produções sobre sua vida: a temporada "O Plano", do podcast História Preta.
Imagem gerada por IA simbolizando a chegada de Luiz Gama aos 17 anos no Cais do Valongo
Para entender o gigante, é preciso conhecer o menino. A história de Gama começa nas ruas vibrantes e complexas de Salvador. Ele nasceu em 21 de junho de 1830 na Rua do Bângala, no coração da cidade, uma região de intensa atividade da população negra livre e escravizada. Como ele mesmo descreveria anos mais tarde em sua célebre carta autobiográfica a Lúcio de Mendonça, ele era filho de Luiza Mahin, “negra, africana livre, da Costa da Mina (...) pagã, que sempre recusou o batismo e a doutrina cristã”.
Sua história, como o podcast História Preta brilhantemente narra em seu primeiro episódio, é a de uma "Liberdade Frágil". Nascido livre, Luiz Gama não deveria conhecer o cativeiro. No entanto, a traição de seu próprio pai, um fidalgo português que o vendeu como escravo aos 10 anos para pagar uma dívida, revelou uma verdade brutal: no Brasil escravocrata, a liberdade para o nosso povo era um estado precário, constantemente sob ameaça.