Amanhã é Dia de Batalha: O ENEM, o Abismo Racial e as Ferramentas para a Nossa Vitória
Neste momento, véspera do segundo dia de provas do ENEM 2025, o Brasil prende a respiração. Para milhões de jovens, especialmente para a juventude negra, este domingo, 16 de novembro, não é apenas um teste de biologia e matemática. É o dia de lutar pelo futuro, de carregar nos ombros o peso de um abismo histórico e a esperança de uma nação inteira.
Para nós, da Educafro Brasil, este é o momento de analisar a realidade nua e crua de quem mais luta pelo direito de sonhar. Os últimos dez anos foram de uma revolução silenciosa, mas incompleta. Se por um lado celebramos vitórias, por outro, os dados revelam as barreiras que o racismo estrutural insiste em manter.
A Década da Ocupação: O que Conquistamos
Não podemos começar esta análise sem celebrar a maior ferramenta de reparação histórica na educação brasileira: a Lei de Cotas (Lei 12.711/2012). A década de 2015 a 2025 consolidou a mudança:
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A Virada Histórica: Em 2018, pela primeira vez na história, os estudantes negros (pretos e pardos) se tornaram a maioria (50,3%) nas universidades públicas federais.
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A Esperança Real: Impulsionados pela possibilidade real de ingresso, vimos um salto no número de inscritos negros no ENEM. O exame deixou de ser um rito de passagem exclusivo das elites e se tornou um campo de batalha popular.
Esta vitória não foi um presente. Foi uma conquista arrancada pela luta do movimento negro, provando que, quando a porta da oportunidade é minimamente aberta, nós a arrombamos com talento e determinação.

O Abismo que a Prova Revela: A Luta pela Escolha
Amanhã, nossos jovens não lutarão apenas pelo acesso, mas pelo direito de escolher. Os dados dos últimos dez anos mostram um padrão cruel e estagnado:
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A Diferença de Pontuação: A nota média de estudantes brancos no ENEM é consistentemente superior à de estudantes negros. Essa diferença, que pode chegar a mais de 100 pontos em áreas como Matemática e Redação, é o que define quem ocupará as vagas de Medicina, Direito e Engenharia (majoritariamente brancas) e quem será direcionado para cursos de menor prestígio.
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A Origem da Desigualdade: O ENEM não mede o mérito individual; ele mede, acima de tudo, o privilégio acumulado. A vasta maioria dos estudantes negros (cerca de 80%) vem da escola pública sucateada. A maioria dos estudantes brancos com notas altas vem de escolas privadas e cursinhos preparatórios caríssimos.
O resultado é um sistema que perpetua a desigualdade: o exame, supostamente "universal", acaba filtrando e validando o abismo social e racial do país.
O que Precisa Mudar para que Mais Negros Tenham Sucesso?
O sucesso no ENEM não depende apenas do esforço de quatro horas no domingo. Depende de um ataque simultâneo em três frentes: garantir que o aluno chegue ao dia da prova, garantir que ele chegue preparado, e garantir que a política de reparação seja mantida.
1. Garantir a Permanência (A Luta contra a Evasão)
O primeiro desafio é fazer com que o estudante negro termine o Ensino Médio. A pobreza e a necessidade de trabalhar são as principais causas da evasão escolar, que afeta majoritariamente nossa juventude.
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Ação-Chave: Programa Pé-de-Meia O Programa Pé-de-Meia, lançado pelo Governo Federal, é uma ferramenta de reparação fundamental. Ao oferecer um incentivo financeiro para que o estudante de baixa renda permaneça na escola, o programa ataca diretamente a causa raiz da evasão. O sucesso no ENEM começa com a garantia de que nosso jovem não precise escolher entre o prato de comida e o caderno.
2. Garantir o Preparo (A Luta contra o Abismo de Ensino)
Não basta apenas estar na escola; é preciso ter um ensino de qualidade que permita competir em pé de igualdade. O acesso a cursinhos preparatórios de elite é impossível para a nossa realidade.
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Ação-Chave: CPOP (Células Populares de Orientação e Preparação) Aqui entra a nossa missão. O CPOP da Educafro é a nossa resposta estratégica. Através de nossos núcleos de pré-vestibular populares, oferecemos não apenas o conteúdo para o ENEM, mas a formação de cidadania, o letramento racial e o aquilombamento necessários para que nossos estudantes entendam que seu lugar é, sim, na universidade. O CPOP é a alternativa popular aos cursinhos da elite, nivelando o campo de batalha com solidariedade e excelência.
3. Garantir a Justiça (A Luta pela Reparação)
Por fim, o sucesso depende da manutenção e expansão das ferramentas de justiça social.
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Ação-Chave: Defesa e Expansão das Cotas Precisamos lutar incansavelmente pela renovação da Lei de Cotas, que está sempre sob ataque. Além disso, é urgente investir maciçamente na escola pública em tempo integral. Somente quando a escola pública do filho do pobre tiver a mesma qualidade da escola privada do filho do rico, poderemos começar a falar em "mérito".
O Chamado da Educafro
A todos os nossos estudantes que amanhã farão esta prova: vocês não estão sozinhos. Cada X que vocês marcarem carrega a força de todos os nossos ancestrais que lutaram para que vocês estivessem ali.
O ENEM 2025 não é apenas uma prova. É um retrato do projeto de país que estamos construindo. Os dados dos últimos 10 anos provam que as cotas funcionam, mas também que elas não são suficientes.
A Educafro Brasil convoca toda a sociedade a lutar pelo fortalecimento do Pé-de-Meia para garantir a permanência, a apoiar os pré-vestibulares populares como o CPOP para garantir a preparação, e a defender as Cotas como o único caminho de reparação real.
A nossa luta não é só pela aprovação; é pela transformação.
Justiça Tem Cor? A Pergunta que o Caso Jefferson e a Tragédia no Rio nos Obrigam a Fazer
"Bem-aventurados os que têm fome e sede de Justiça, porque serão saciados." (Mateus 5:6)
A fé nos ensina a buscar a justiça acima de tudo. Mas, como podemos ter sede de justiça em um país que nos apresenta, de forma tão cruel, duas realidades opostas?
A Vaga da Reparação: Por que a Próxima Ministra do STF Precisa Ser uma Mulher Negra
A cadeira que pertenceu ao Ministro Luís Roberto Barroso no Supremo Tribunal Federal (STF) está vaga. No xadrez político de Brasília, a movimentação é intensa, com nomes de homens sendo apontados como favoritos nos bastidores do poder. Para nós, contudo, esta não é uma mera disputa por um cargo. É um momento de cobrança histórica.
Temos fotos, frases de efeito, mas, nos bastidores, lidamos com o racismo institucional incansável
Protesto contra o racismo no desfile da Beija-Flor em 2023 — Foto: Domingos Peixto
No dia 13 de maio de 2022, ingressei com uma ação contra o Estado brasileiro, em nome da Educafro, pelo racismo praticado contra a população negra. Nela, com um grupo multidisciplinar, consegui expor as diversas formas como o Brasil reproduzia e aprofundava os prejuízos a essa parcela de seu povo, usando História, economia e psicologia para apontar as irregularidades.
7 de outubro de 2025
ATO INÉDITO: Entidades abrem, no STF, 5 ações em defesa dos pobres
Várias instituições, inclusive a EDUCAFRO Brasil, fizeram algo inusitado, que nenhuma grande instituição do BRASIL teve coragem de fazer: abrir, no STF, 5 ações, ao mesmo tempo, em defesa dos direitos da população brasileira. Este trabalho foi um ato de colocar nosso saber a serviço do Reino de DEUS, é a missão de toda pessoa de FÉ!
Nova plataforma "Linha de Cor" expõe o racismo na legislação brasileira e fortalece a educação antirracista
Iniciativa inovadora, desenvolvida por uma equipe de mais de 90 profissionais negros, oferece materiais pedagógicos gratuitos para aprofundar o debate sobre as hierarquias raciais no país.
Nesta sexta-feira, 3 de outubro, foi lançado o website "Linha de Cor", uma poderosa ferramenta de pesquisa e educação que mapeia como as leis e projetos políticos no Brasil historicamente estruturaram o racismo. O lançamento ocorreu durante um seminário na Universidade de Brasília (UnB), marcando a disponibilização pública de um acervo fundamental para a luta antirracista.
Diário de um Massacre, Sobrevivendo à Injustiça: O Carandiru, os Racionais e a Luta que Não Acabou
são paulo, 1 de outubro de 1992.
O ar está pesado. Mais um dia, como diz o poeta da canção que ainda não foi escrita, “sob o olhar sanguinário do vigia”. O cheiro de morte ronda os pavilhões superlotados, um pressentimento que se mistura ao odor de esgoto e desespero. Lá fora, o país se prepara para eleições municipais. Aqui dentro, a única eleição é entre a sobrevivência e a loucura. A tensão é uma navalha. Ninguém sabe, mas a história se prepara para parir um de seus monstros. Este é o diário da véspera.
NOSSOS CORPOS IMPORTAM! PARE O GENOCÍDIO NEGRO E O ENCARCERAMENTO EM MASSA!
E aí, família da Educafro! Firmeza na caminhada?
A gente fala de educação, de empreendedorismo, de saúde, de cultura, de terra e de comida na mesa. E tudo isso é vital! Mas não dá pra falar de futuro e ascensão sem encarar a chaga aberta que nos sangra todos os dias: a violência policial, o racismo no sistema de justiça e o encarceramento em massa que atinge principalmente os nossos.
NOSSOS CORPOS NO ALVO: GUIA DE LUTA PELO FIM DO GENOCÍDIO NEGRO
E aí, família! Firmeza?
A gente sabe que a caminhada é longa e o bagulho é sério. Todo dia, a gente liga a TV ou abre a internet e a notícia tá lá: mais um dos nossos tombou. Mais uma mãe chorando, mais uma família destruída. Dizem que é "guerra às drogas", mas a gente sabe qual é a cor e o CEP que tão na mira. É uma guerra contra nós. Chamam de "auto de resistência", a gente chama pelo nome certo: genocídio.
Sônia Maria de Jesus: A Sentença da Casa-Grande: O Estado que Resgata com uma Mão e Abandona com a Outra
O caso de Sônia Maria de Jesus é uma ferida exposta na alma do Brasil. Não é apenas a história de uma mulher negra, surda e com visão monocular resgatada após 40 anos de servidão; é a materialização da falência de um projeto de nação e um divisor de águas para o futuro da luta antiescravista no país. A recente carta emitida pelo Escritório do Alto Comissariado da ONU, detalhada pelo portal NSC Total, eleva a vergonha nacional a um patamar global. A ONU pergunta o que o Brasil está fazendo. A resposta, infelizmente, está na própria trajetória de Sônia: muito pouco, e de forma terrivelmente contraditória.






