Justiça para Todos: A Lei é a Mesma para Roberto Jefferson e para o Jovem da Favela?
Nos últimos anos, o Brasil assistiu a cenas que nos forçam a fazer perguntas difíceis. Uma delas, que ficou gravada na memória do país, foi a prisão do ex-deputado Roberto Jefferson. Um homem que, entrincheirado em sua casa, atirou com fuzil e lançou granadas contra policiais federais que cumpriam uma ordem judicial.
Independentemente de quem ele seja ou do que pensemos dele, o fato é um só: um cidadão atacou agentes da lei. O que se seguiu foram oito horas de negociação paciente, a mobilização de um ministro de Estado e um tratamento cuidadoso para garantir sua rendição.
Nós, da Educafro Brasil, acreditamos que todo crime deve ser punido e que a lei deve ser cumprida. Mas o episódio nos obriga a uma reflexão honesta e profunda, uma pergunta que ecoa do asfalto ao morro: e se Roberto Jefferson fosse negro e pobre?
Dois Pesos, Duas Justiças?
Se um jovem negro, morador de uma favela, fosse pego em uma situação remotamente parecida, o Estado negociaria por oito horas, sem empurrar o pé na porta?. A resposta, infelizmente, nós já conhecemos.
A realidade cotidiana de nossas periferias é outra. Vemos com frequência operações que terminam em violência, onde a suspeita muitas vezes se baseia na cor da pele e no CEP. Quando um pobre enfrenta um policial, o desfecho é, não raro, trágico, e o boletim de ocorrência registra um "auto de resistência".
Perguntamos com todo respeito: no boletim da prisão de Roberto Jefferson, que atirou para matar, constou "auto de resistência"? Ou essa norma só vale para alguns brasileiros?.
Acreditamos em uma polícia forte, respeitada e que cumpre seu dever. Mas a força da polícia vem da sua justiça. E a justiça só existe quando a lei é aplicada da mesma forma para o homem rico em sua mansão e para o jovem pobre em seu barraco.
A Lição de um Santo Brasileiro e a Sede de Justiça
Essa busca por igualdade não é uma invenção de hoje. A nossa própria história de fé nos inspira. No século XVIII, em pleno regime da escravidão, o primeiro santo brasileiro, Frei Galvão, nos deu uma lição de coragem.
Conforme os documentos de sua canonização, Frei Galvão se insurgiu contra a ordem do governador de São Paulo de enforcar um soldado negro, Caetano José da Costa. O "crime" de Caetano? Ter tocado no filho do governador para apartar uma briga. O frade franciscano enfrentou a autoridade, sofreu ameaça de expulsão, mas, com o apoio do povo, conseguiu salvar a vida daquele homem.
Frei Galvão nos ensinou que a fé verdadeira se manifesta na defesa dos injustiçados. Como nos lembra o Evangelho, “Bem-aventurados os que têm fome e sede de Justiça” (Mateus 5). É essa fome e essa sede que nos movem.
O Caminho da Educafro: Recuperar Vidas, não Descartá-las
Alguns políticos insistem em soluções fáceis e equivocadas, como remover as câmeras das fardas policiais ou reduzir a maioridade penal. Nós acreditamos no contrário. As câmeras protegem os bons policiais da injustiça e protegem o cidadão da violência. Prender menores em presídios superlotados não recupera ninguém; apenas os entrega de vez ao crime organizado.
Nossa aposta é na recuperação e na oportunidade. É o caso do professor Roberto da Silva, um homem que, após passar pelo sistema prisional, se reergueu, formou-se e hoje tem pós-doutorado pela USP, onde já ajudou a formar dezenas de outros doutores. Ele é a prova viva de que a recuperação é possível e é o melhor caminho para o Brasil.
A brutalidade policial não é a solução. A solução é uma polícia que age com a mesma régua para todos. Defendemos a prisão e o julgamento justo de quem comete crimes, seja Roberto Jefferson ou qualquer outro cidadão, não importa se branco ou negro, rico ou pobre.
A polícia não deve atirar para matar. A polícia deve prender para que a Justiça possa julgar. É isso que fortalece a ordem, a lei e a própria autoridade policial.
A Educafro Brasil convida a todos, de todas as crenças e posições políticas, a refletir: o Brasil que queremos é um país de privilégios ou um país de justiça para todos? A resposta a essa pergunta definirá nosso futuro como nação.
Para Compreender o Tema e Aprofundar a Reflexão
Referências Bibliográficas:
- BENTO, Cida. O Pacto da Branquitude. Editora Companhia das Letras, 2022.
- Por que ler: Obra fundamental da psicóloga Cida Bento que conceitua o "pacto narcísico da branquitude", um acordo tácito entre pessoas brancas para manter privilégios. Ajuda a entender a base teórica por trás da diferença de tratamento dispensada a Roberto Jefferson e a um cidadão negro.
- ALMEIDA, Silvio. Racismo Estrutural. Editora Jandaíra, 2019.
- Por que ler: Explica como o racismo não é apenas um ato individual de preconceito, mas um sistema que opera dentro das instituições do Estado, como a polícia e o Judiciário, normalizando a desigualdade de tratamento.
- FLAUZINA, Ana Luiza Pinheiro. Corpo Negro Caído no Chão: O sistema penal e o projeto genocida do Estado brasileiro. Editora Contracorrente, 2017.
- Por que ler: Uma análise jurídica contundente sobre como o sistema penal brasileiro elege o corpo negro como seu alvo principal, conectando a violência policial à lógica do encarceramento em massa e do genocídio.
- Anuário Brasileiro de Segurança Pública. Fórum Brasileiro de Segurança Pública (publicação anual).
- Por que consultar: Apresenta os dados estatísticos mais confiáveis sobre violência, letalidade policial e encarceramento no Brasil, sempre com recortes de raça/cor, provando numericamente a disparidade abordada no artigo.
Referências Audiovisuais:
- Cobertura Jornalística da Prisão de Roberto Jefferson (outubro de 2022).
- Por que assistir: Buscar nas retrospectivas e arquivos de grandes portais (G1, UOL, CNN Brasil) as reportagens da época. Observar o tom da cobertura, a longa negociação e as falas das autoridades é essencial para contrastar com a abordagem violenta comum nas periferias.
- Documentário "Notícias de uma Guerra Particular" (1999), de João Moreira Salles e Kátia Lund.
- Por que assistir: Um clássico que, embora não seja recente, expõe de forma crua a lógica da "guerra" nas favelas do Rio de Janeiro, mostrando a perspectiva de moradores, policiais e traficantes, e ajudando a entender a origem da mentalidade de confronto que vitimiza a população pobre e negra.
- Entrevista com Cida Bento no programa "Roda Viva" (2022).
- Por que assistir: A autora explica de forma didática e acessível o conceito do "Pacto da Branquitude" e como ele se manifesta em situações cotidianas e em grandes eventos, como o caso Roberto Jefferson. Disponível no YouTube.
- Podcast "Mano a Mano", episódio com Silvio Almeida (2021).
- Por que ouvir: O atual Ministro dos Direitos Humanos e da Cidadania aprofunda o conceito de racismo estrutural em uma conversa franca com o rapper Mano Brown, tornando o tema acessível e conectando-o com a realidade da periferia. Disponível no Spotify.
O Silêncio que Adoece a Alma: Um Chamado à Justiça e à Dignidade no Ambiente de Trabalho
Minhas irmãs, especialmente a vocês, mulheres negras, que realizam jornadas diárias em espaços que não foram construídos para acolher sua plena dignidade. Falemos com a clareza do Evangelho e a força da Constituição sobre o ambiente de trabalho, um lugar onde estruturas de poder e preconceito se entrelaçam para criar um campo minado de violências que ferem o corpo e a alma.
Um espaço que, para nós, muitas vezes exige uma armadura extra. Onde nossa competência é testada em dobro, enquanto nossas vozes são silenciadas. A cultura do silêncio corporativo, frequentemente regida por uma fraternidade mal compreendida que protege os seus em vez de proteger a verdade, torna-se ainda mais densa quando a vítima é uma de nós. O custo disso é a nossa saúde, nossa paz e nossa segurança.
Mas o tempo da omissão, que é um pecado social e uma ilegalidade, acabou. Com a força da lei, a coragem de nossas ancestrais e a união que nos define, somos chamados a desmantelar esse pacto de conivência que fere a dignidade de cada filha de Deus. Este é um guia de ação, um mapa para que saibamos nossos direitos e para que as empresas entendam, de uma vez por todas, suas obrigações morais e legais.
A Vaga da Reparação: Por que a Próxima Ministra do STF Precisa Ser uma Mulher Negra
A cadeira que pertenceu ao Ministro Luís Roberto Barroso no Supremo Tribunal Federal (STF) está vaga. No xadrez político de Brasília, a movimentação é intensa, com nomes de homens sendo apontados como favoritos nos bastidores do poder. Para nós, contudo, esta não é uma mera disputa por um cargo. É um momento de cobrança histórica.
Em 134 anos de existência, o STF já foi ocupado por 172 ministros. Desses, apenas três foram mulheres. Nenhum, absolutamente nenhum, foi uma mulher negra. Somos mais da metade da população brasileira e 28% do total demográfico do país, mas para a mais alta Corte de Justiça, somos invisíveis.
A aposentadoria do Ministro Barroso, que declarou ver "com gosto, com simpatia a escolha recair por uma mulher", não abre apenas uma vaga. Ela abre uma janela para que o Presidente da República, em sua terceira chance, corrija essa injustiça secular.
A Educafro Brasil tem a honra de convidar toda a comunidade para o Encontro Literário Palavras Afirmativas 2025, um evento pensado para celebrar a força da literatura negra como ferramenta de inspiração, representatividade e transformação social.
Em um dia inteiro de imersão cultural, vamos nos conectar com as vozes que estão escrevendo novas e potentes histórias para o Brasil. Acreditamos no poder da palavra para fortalecer identidades, abrir caminhos e construir um futuro mais justo e inclusivo. Este encontro é um espaço para o diálogo, a descoberta e o aquilíbrio.
13 de outubro de 2025
Cuidar de Nossas Rainhas: Reparação, Afeto e o Aquilombamento pela Saúde da Mulher Negra
“Mulheres negras têm colo para todo mundo, mas fica a pergunta: quem tem colo para elas?”
Esta questão, levantada em um vídeo que circula em nossas redes, não é retórica. É um diagnóstico preciso de uma crise silenciosa e secular. Historicamente, a mulher negra no Brasil foi colocada no papel de cuidadora universal: a base da família, o esteio da comunidade, a força motriz que sustenta gerações inteiras, muitas vezes sozinha. Enquanto oferecem seu colo, força e sacrifício, seus próprios corpos e mentes adoecem pela negligência de uma sociedade que se acostumou a ser servida por elas, mas que raramente serve a elas.
Cuidar de nossas mães, irmãs, parceiras e amigas não é um favor. “Não é mimo, é reparação. É compromisso com a vida”.
ATO INÉDITO: Entidades abrem, no STF, 5 ações em defesa dos pobres
Várias instituições, inclusive a EDUCAFRO Brasil, fizeram algo inusitado, que nenhuma grande instituição do BRASIL teve coragem de fazer: abrir, no STF, 5 ações, ao mesmo tempo, em defesa dos direitos da população brasileira. Este trabalho foi um ato de colocar nosso saber a serviço do Reino de DEUS, é a missão de toda pessoa de FÉ!
Nova plataforma "Linha de Cor" expõe o racismo na legislação brasileira e fortalece a educação antirracista
Iniciativa inovadora, desenvolvida por uma equipe de mais de 90 profissionais negros, oferece materiais pedagógicos gratuitos para aprofundar o debate sobre as hierarquias raciais no país.
Nesta sexta-feira, 3 de outubro, foi lançado o website "Linha de Cor", uma poderosa ferramenta de pesquisa e educação que mapeia como as leis e projetos políticos no Brasil historicamente estruturaram o racismo. O lançamento ocorreu durante um seminário na Universidade de Brasília (UnB), marcando a disponibilização pública de um acervo fundamental para a luta antirracista.
Nosso Lar é o Quilombo: Em Salvador, a Educação se firma como Ferramenta de Luta para o Futuro do Nosso Povo
A caminhada é longa, mas nunca andamos sós. O que aconteceu na Bahia foi mais que um encontro: foi o reafirmar de um compromisso ancestral com a nossa gente, com o nosso saber e com a nossa terra.
O som dos tambores em Salvador, entre 24 e 26 de setembro, não era apenas festa. Era chamado. Era a voz dos nossos ancestrais ecoando, reunindo mais de 350 dos nossos para o I Encontro Regional de Educação Escolar Quilombola do Nordeste. Era o nosso povo se aquilombando para traçar o futuro. E nós, da Educafro Brasil, que somos parte deste chão e desta luta, estávamos lá, ombro a ombro, fortalecendo a trincheira e reafirmando que a educação, para nós, é e sempre será um ato de libertação.
Até quando nossos nomes, nossa cultura e nossa história serão vistos como "estranhos"?
Nossos nomes carregam nossa história, mas o sistema insiste em tentar apagá-la.
Em Belo Horizonte, um casal negro luta na justiça pelo direito de registrar sua filha com o nome Tumi Mboup. Para o cartório, o nome que honra a ancestralidade africana foi considerado "incomum".
Isso não é sobre um nome. É sobre o direito à nossa identidade.
✊🏾 Assista e compartilhe. A luta de Fábio e Kelly é a nossa luta.
Diário de um Massacre, Sobrevivendo à Injustiça: O Carandiru, os Racionais e a Luta que Não Acabou
são paulo, 1 de outubro de 1992.
O ar está pesado. Mais um dia, como diz o poeta da canção que ainda não foi escrita, “sob o olhar sanguinário do vigia”. O cheiro de morte ronda os pavilhões superlotados, um pressentimento que se mistura ao odor de esgoto e desespero. Lá fora, o país se prepara para eleições municipais. Aqui dentro, a única eleição é entre a sobrevivência e a loucura. A tensão é uma navalha. Ninguém sabe, mas a história se prepara para parir um de seus monstros. Este é o diário da véspera.










