A EDUCAFRO Brasil parabeniza a equipe que produziu o documentário sobre o maior educador do mundo, PAULO FREIRE 

imagem: Educafro Brasil perfil social media

 

🎉 Orgulho que transborda! 🎉

A EDUCAFRO Brasil celebra e parabeniza a talentosa equipe do documentário sobre o mestre PAULO FREIRE, grande vencedor do prêmio de Melhor Documentário no Festival de Gramado/2025! 🎬🏆

Essa conquista é um reconhecimento fundamental da importância de um olhar para a educação que transforma realidades. O legado de Paulo Freire é a nossa inspiração diária: uma educação que parte da realidade de cada cidadão para formar, libertar e construir um futuro mais justo.

A vitória desse documentário reforça que estamos no caminho certo!

✨ Quer conhecer mais sobre nossas oportunidades e fazer parte dessa transformação? Acesse o link na bio! 👉 allmylinks.com/educafro

#EDUCAFRO #PauloFreire #EducaçãoLibertadora #FestivalDeGramado #Documentário #EducaçãoPopular #TransformaçãoSocial #Orgulho


PORTAL DO BOLSISTA - BOLSAS DE ESTUDO PARA OS NOSSOS FILHO(A)S EM TODOS OS MUNICÍPIOS DO BRASIL

BOLSAS DE ESTUDO PARA OS NOSSOS FILHO(A)S EM TODOS OS MUNICÍPIOS DO BRASIL

Organizem-se em grupo de 10 mães/pais aí no seu bairro (traga-as aqui para ESTE grupo) e escolha o colégio de seu bairro que seja o mais apropriado para lutarmos, juntos, por bolsas! Vamos nessa?

Pesquise aqui todos os colégios de ensino fundamental/médio/superior que são obrigados a fornecerem bolsas para afros e outros pobres, e descontá-las nos impostos governamentais. Entenderam? Não é doação da instituição! É um direito nosso!!!!

Read more


A Reparação como Rosto da Justiça no Século 21: A Luta por um Tribunal da Escravidão na ONU

A Reparação como Rosto da Justiça no Século 21: A Luta por um Tribunal da Escravidão na ONU

 

A Educafro Brasil, em sua missão de promover a inclusão e a justiça para a população negra, une-se ao crescente movimento global que pressiona a Organização das Nações Unidas (ONU) pela criação de um tribunal internacional sobre a escravidão e de um fundo de reparação. Esta não é apenas uma pauta; é a materialização da justiça histórica, o reconhecimento de um crime contra a humanidade e o único caminho para a superação do legado de miséria e desigualdade que a escravidão impôs aos povos africanos e seus descendentes.

A Proposta Global e Seus Defensores

Como reportado pelo colunista Jamil Chade, do UOL, o Fórum de Pessoas Afrodescendentes da ONU está na vanguarda desta iniciativa, recomendando a criação de dois mecanismos cruciais: um tribunal internacional especial para julgar as demandas sobre a escravidão e o colonialismo, e um fundo internacional de reparação.

Esta proposta ganha força com o apoio de dezenas de países africanos, caribenhos (liderados pela CARICOM) e latino-americanos, que veem nas recentes, mas ainda simbólicas, declarações de Portugal e da Holanda sobre suas responsabilidades na escravidão um sinal de que a pressão está a surtir efeito. A Holanda, por exemplo, anunciou a criação de um fundo de 200 milhões de euros para examinar medidas de reparação.

O movimento conta também com o apoio da própria cúpula da ONU. Volker Turk, o chefe de direitos humanos da organização, declarou publicamente o seu apoio, afirmando que "os governos devem se mobilizar para mostrar uma verdadeira liderança com compromissos genuínos para passar rapidamente das palavras à ação que resolverá adequadamente os erros do passado". Esta posição, considerada "revolucionária" e "impensável" há uma década por diplomatas, eleva o debate a um novo patamar.

As Bases e Referências para a Mudança

A base para a criação do tribunal e do fundo de reparação é sólida e multifacetada:

  • Direito Internacional: A escravidão e o tráfico de escravos são considerados crimes contra a humanidade. A proposta busca aplicar este princípio para responsabilizar os Estados e instituições que se beneficiaram dessa prática.
  • Justiça Histórica: A reparação não se trata apenas de compensação financeira. Envolve a restituição, a reabilitação, a satisfação (como pedidos formais de desculpas e a construção de memoriais) e as garantias de não repetição do crime.
  • Precedentes: Existem precedentes de reparações por outras injustiças históricas, como as compensações pagas às vítimas do Holocausto e aos nipo-americanos que foram internados durante a Segunda Guerra Mundial.

Convenção Interamericana: A Ferramenta Jurídica Regional

No continente americano, a luta por reparação ganhou um poderoso instrumento jurídico: a Convenção Interamericana contra o Racismo, a Discriminação Racial e Formas Correlatas de Intolerância. Este tratado, adotado no âmbito da Organização dos Estados Americanos (OEA), é uma ferramenta fundamental que fortalece a legitimidade da nossa luta.

Até o momento, a Convenção foi ratificada por um grupo crescente de países, incluindo Brasil, Uruguai, México, Costa Rica, Equador e Antígua e Barbuda. A adesão destes Estados cria um bloco com obrigações legais claras para combater o racismo em todas as suas formas.

Para o Brasil, a ratificação tem um peso ainda maior: o Congresso Nacional a aprovou com o status de Emenda Constitucional, o que significa que suas cláusulas têm a força da própria Constituição Federal.

O Impacto da Convenção no Futuro da Reparação

A Convenção Interamericana impacta diretamente a luta por reparação de três formas cruciais:

  1. Obriga o Estado a Agir: O tratado estabelece o dever dos Estados de adotar "medidas especiais e ações afirmativas" para garantir os direitos das pessoas e grupos que são vítimas de discriminação racial. Isso cria uma base legal para exigir políticas públicas de reparação.
  2. Reconhece o Racismo Estrutural: A Convenção vai além do racismo interpessoal, reconhecendo a existência da discriminação indireta, institucional e estrutural – exatamente o legado deixado pela escravidão. Combater o racismo estrutural hoje é impossível sem confrontar suas origens históricas.
  3. Cria um Dever de Memória e Verdade: Ao obrigar os Estados a prevenir e punir o racismo, a Convenção implicitamente exige um acerto de contas com o passado. Não se pode eliminar o racismo sem educar sobre suas raízes, reconhecer as vítimas e responsabilizar os sistemas que o perpetuaram.

Assim, quando a Educafro e outros movimentos sociais demandam reparação, não estamos apenas fazendo um apelo moral. Estamos exigindo o cumprimento de uma obrigação legal que o Brasil assumiu perante a comunidade internacional e incorporou em sua própria Constituição. A Convenção é a prova de que a reparação não é uma opção, mas um dever.

Os Obstáculos e o Caminho a Seguir

Apesar dos avanços, a criação do tribunal global e do fundo enfrenta a resistência de governos europeus e de ex-metrópoles, que temem os custos financeiros e a responsabilização histórica. As dificuldades são reais e envolvem desde a complexidade logística para definir os beneficiários até a pressão política para que as nações mais ricas aceitem sua "condenação" a pagar pelo sistema que lhes permitiu enriquecer.

A pressão contínua, no entanto, tem se mostrado eficaz. Cada país que ratifica a Convenção Interamericana, cada declaração de um líder global, cada manifestação da sociedade civil organizada aumenta o custo político da inércia.

A Educafro Brasil acredita que a articulação entre a pressão diplomática na ONU e a força jurídica da Convenção Interamericana é o caminho para o futuro. Continuaremos a lutar em todas as frentes, para que a reparação pela escravidão deixe de ser uma demanda e se torne uma realidade, concretizando a justiça para milhões de afrodescendentes em nosso país e em todo o mundo.

 

Este artigo institucional foi construído com base na reportagem "ONU é pressionada a criar tribunal sobre escravidão e fundo de reparação", de autoria do jornalista e colunista do UOL, Jamil Chade. O trabalho de Jamil Chade, correspondente em Genebra, pode ser acompanhado em sua coluna no portal UOL (https://www.google.com/search?q=noticias.uol.com.br/colunas/jamil-chade/) e em suas redes sociais, como o canal "Café e Conversa com Jamil Chade" no YouTube.


A Voz Profética de James Baldwin: Um Farol Para a Luta Antirracista no Brasil de Hoje

A Voz Profética de James Baldwin: Um Farol Para a Luta Antirracista no Brasil de Hoje

 

Em um mundo que insiste em categorizar e diminuir, a voz de James Baldwin ressoa com uma clareza incisiva e uma urgência atemporal. Para nós, da Educafro Brasil, revisitar a vida, a obra e as ideias deste gigante da literatura e do pensamento crítico não é apenas um exercício de memória, mas uma ferramenta poderosa para a luta diária por uma educação e uma sociedade verdadeiramente antirracistas. Baldwin não foi apenas uma testemunha de seu tempo; ele nos ofereceu um espelho para compreendermos as complexas e dolorosas estruturas do racismo que, embora em um contexto diferente, ainda definem a realidade de milhões de jovens negros e negras no Brasil.

Read more


Frantz Fanon, 100 Anos: O Manual de Sobrevivência, Luta e Libertação que Continua Atual

 

Cem anos após seu nascimento, em 20 de julho de 1925, Frantz Fanon nunca foi tão contemporâneo. Suas palavras, forjadas no fogo da psiquiatria e da luta anticolonial, continuam sendo uma ferramenta indispensável, um diagnóstico preciso das feridas do racismo e um manual para a nossa libertação. Para nós, da Educafro, que entendemos a educação como o campo de batalha decisivo para a emancipação do povo negro, revisitar Fanon em seu centenário não é um ato de nostalgia, mas uma necessidade estratégica.

Este psiquiatra, escritor e revolucionário da Martinica não é uma figura histórica a ser estudada com distância. Ele é um companheiro de luta, cujas ideias nos ensinam a viver, lutar e crescer em um mundo que ainda insiste em nos confinar ao "não-ser".

Read more


"Identidade", de Jorge Aragão: A Letra que Desmascarou o Elevador Social do Brasil


 

"Identidade", de Jorge Aragão: A Letra que Desmascarou o Elevador Social do Brasil

 

A história da música brasileira é, em sua essência, uma história de resistência negra. Desde os batuques e cantos que ecoavam nas senzalas como forma de comunicação e sobrevivência, passando pela criação do samba nos quintais e terreiros do Rio de Janeiro como um ato de afirmação cultural, a musicalidade afro-brasileira sempre foi mais do que arte: foi uma ferramenta para lutar, denunciar e existir.

Dentro dessa poderosa linhagem, poucas canções conseguiram traduzir com tanta precisão e genialidade a complexidade do racismo no Brasil como "Identidade", de Jorge Aragão. Lançada no início dos anos 80, a música, conhecida como "Elevador", é um marco do samba como crônica social. Para nós, da Educafro, que trabalhamos pela educação como ferramenta de libertação, analisar esta letra é um exercício fundamental de letramento racial.

 

A Composição: A Dor Real que Virou Hino

 

A força de "Identidade" começa em sua origem: a canção nasceu de uma experiência real de racismo vivida por Jorge Aragão nos anos 70. Ao entrar no elevador social de um hotel, foi abordado por uma senhora branca que, presumindo ser ele o ascensorista, disparou o "elogio" que se tornaria o cerne da música: "Você é um preto de alma branca".

Essa frase é a síntese do racismo cordial: uma violência disfarçada de afeto, que elogia o indivíduo negro ao mesmo tempo em que rebaixa sua comunidade, tratando qualidades como educação como inerentemente brancas. Aragão, como herdeiro de uma tradição de cronistas do cotidiano, transformou essa dor em uma denúncia poética e universal.

Do Terreiro à MPB: O Samba Como Ferramenta de Denúncia

 

A canção de Aragão surge em um momento crucial. Enquanto a MPB dos anos 60 e 70, com gigantes como Gilberto Gil e Elza Soares, já incorporava a herança da música negra e trazia novas temáticas, o samba vivia sua própria revolução. Artistas como Jorge Aragão, parte da geração do Fundo de Quintal, sofisticaram a lírica do gênero, provando que o samba de raiz também era um espaço potente para a reflexão crítica, sem perder sua conexão com o povo.

"Identidade" se encaixa perfeitamente nessa trajetória histórica. Ela é a prova de que o samba, nascido como forma de resistência cultural nas comunidades negras do final do século XIX, continuava, quase cem anos depois, a cumprir seu papel de ser a voz de seu povo, denunciando as novas e velhas formas de opressão.

 

Diálogos e Conexões: "Identidade" na Encruzilhada da Arte Negra

 

A reflexão de Jorge Aragão não está isolada; ela dialoga com uma vasta produção cultural e intelectual negra.

  • Pensadores: A letra ecoa o pensamento de Lélia Gonzalez, que teorizou sobre o "racismo por denegação", e Frantz Fanon em "Pele Negra, Máscaras Brancas", que dissecou a psicologia da assimilação. A metáfora do elevador é a representação perfeita do que Silvio Almeida define como Racismo Estrutural.
  • Cinema e Legado: A cordialidade que esconde o terror, tema da música, é a mesma explorada em "Corra!". E a linhagem de denúncia e afirmação de "Identidade" não parou nos anos 80. A tocha foi passada para o rap, e hoje, quando ouvimos Emicida, Criolo ou Karol Conká, estamos ouvindo ecos da mesma coragem de Jorge Aragão: a de usar a música popular para dissecar as feridas do Brasil.

 

Para Aprofundar a Escuta: Um Guia de Referências

 

Compreender a profundidade de "Identidade" é uma jornada. Deixamos aqui um mapa com referências para quem deseja ir além.

Músicas:

  • "A Carne" - Elza Soares
  • "Olhos Coloridos" - Sandra de Sá
  • "Capítulo 4, Versículo 3" - Racionais MC's
  • "Boa Esperança" - Emicida
  • "Isso Ninguém Me Tira" - Fundo de Quintal

Livros:

  • "Pele Negra, Máscaras Brancas" - Frantz Fanon
  • "Pequeno Manual Antirracista" - Djamila Ribeiro
  • "Racismo Estrutural" - Silvio Almeida
  • "Por um Feminismo Afro-Latino-Americano" - Lélia Gonzalez

Filmes:

  • "A Negação do Brasil" (2000) - Dir. Joel Zito Araújo
  • "AmarElo - É Tudo Pra Ontem" (2020) - Dir. Fred Ouro Preto
  • "Doutor Gama" (2021) - Dir. Jeferson De

Podcasts:

  • "Mano a Mano" (Spotify)
  • "Angu de Grilo" (Flávia Oliveira e Isabela Reis)
  • "Afetos" (Gabi Oliveira e Karina Vieira)

Exposições e Projetos:

  • Museu Afro Brasil (São Paulo): Acervo essencial sobre a história e a arte negra.
  • Projeto Afro (projetoafro.com): Plataforma de mapeamento de artistas negros contemporâneos.

Conclusão

"Identidade" não é um evento isolado, mas um brilhante capítulo no longo livro da resistência musical negra no Brasil. Ela nos mostra que, da senzala ao streaming, a luta é a mesma: pelo direito de existir, de ocupar espaços e de celebrar quem somos. Que a letra de Jorge Aragão sirva como ferramenta de debate e orgulho, reafirmando sempre: não nos ajuda, só nos faz sofrer, nem resgata nossa identidade.

Redação: Reprodução parcial do site Afro cultura: https://afrocultura.com.br/a-presenca-negra-na-musica-brasileira-uma-historia-de-resistencia-e-influencia/


EDUCAFRO NEWS edição: 1000 - Setembro 2025

EDUCAFRO NEWS - EDIÇÃO SETEMBRO 2025 NÚMERO 1000
IMAGEM CAPA DO JORNAL EDUCAFRO NEWS
[CLIQUE AQUI] Para baixar a edição de Setembro 2025 número 1000 da EDUCAFRO NEWS

 

Fique por Dentro das Oportunidades: Baixe a Edição Histórica do EDUCAFRO NEWS!

 

A edição comemorativa de número 1000 do **EDUCAFRO NEWS** já está disponível e repleta de informações cruciais para a comunidade negra. Este marco histórico do nosso jornal continua a missão de fortalecer e conectar nosso povo por meio de oportunidades de transformação.

Read more


Projeto Afro: O Quilombo Digital que Mapeia o Futuro da Arte Negra no Brasil

RUBEM VALENTIM SALVADOR (BA), 1922 - SÃO PAULO (SP), 1991

Em um país que, insistentemente, tenta apagar, restringir e desvalorizar as contribuições do povo negro, a arte sempre foi nosso campo de batalha e nosso refúgio. Mas como transformar a arte, que é a alma da nossa resistência, em sustento, carreira e legado? Como garantir que nossos artistas não sejam apenas celebrados postumamente, mas que possam viver de seu ofício, aqui e agora?

A resposta está na criação de nossas próprias estruturas. E uma das mais potentes ferramentas nessa construção é o Projeto Afro, uma plataforma afro-brasileira visionária dedicada ao mapeamento e difusão de artistas negros, negras e negres.

Para a Educafro, que luta diariamente pelo acesso à educação e ao mercado de trabalho, o Projeto Afro é mais do que um catálogo de arte. É uma estratégia de aquilombamento, uma ferramenta de emancipação econômica e um arquivo vivo que educa o Brasil sobre a potência de sua diáspora.

Read more


Mais que Papel, um Povo em Chamas: O Crime de Ruy Barbosa, o Apagamento e a Luta por Reparação


 

Mais que Papel, um Povo em Chamas: A Fogueira de Ruy Barbosa, as Histórias que Sobreviveram e a Luta por Reparação

 


 

Você já se perguntou por que é tão difícil para uma pessoa negra no Brasil traçar sua árvore genealógica? Por que os nomes de nossos heróis soam como lendas distantes e nossas conquistas parecem notas de rodapé na história do país? Esse vazio não é um acidente. Ele é um projeto. E um dos atos fundadores desse projeto tem nome, data e um responsável: a queima dos arquivos da escravidão, ordenada em 14 de dezembro de 1890 pelo então ministro da Fazenda, Ruy Barbosa.

Muitos aprenderam a celebrar Ruy Barbosa como o "Águia de Haia", mas o que a história oficial raramente conta é que ele foi o arquiteto de um dos maiores crimes contra a memória do povo negro. Em despacho oficial, Ruy Barbosa justificou a ordem de destruir os documentos afirmando que a República era “obrigada a destruir esses vestígios por honra da pátria”. Contudo, essa tentativa de "apagar a mancha" da escravidão não passou sem críticas na época. O deputado Francisco Coelho Duarte Badaró protestou no Congresso, afirmando: “não devemos fazer o papel de iconoclastas, devemos ter um arquivo. (...) Pelo fato de mandar queimar grande número de documentos para a história do Brasil, a vergonha nunca desaparecerá”. A imprensa também reagiu. O jornal O Estado de S. Paulo, em 21 de dezembro de 1890, questionou: “Eu não chego mesmo a comprehender o direito que tenha um ministro de destruir documentos que, mais do que aos archivos das repartições, pertendem à história.”

O alvo da fogueira, como demonstra a HQ “Ruy Barbosa e a queima dos arquivos da escravidão” (publicada pelo The Intercept Brasil), não era a vergonha do país, mas a memória do nosso povo.

 

Anatomia de um Crime Contra a Memória e a Identidade

 

A queima dos arquivos foi um crime com múltiplas e devastadoras consequências:

  1. Epistemicídio e Roubo da Identidade: Ao ordenar a destruição dos registros, Ruy Barbosa cometeu o assassinato deliberado do conhecimento, o epistemicídio. Ele destruiu a prova material que poderia ajudar milhões a traçar suas origens e compreender a trajetória de suas famílias.
  2. Obstáculo à Reparação: A consequência mais grave foi inviabilizar o direito à reparação para as vítimas. Sem os registros, tornou-se exponencialmente mais difícil para os ex-escravizados e seus descendentes provarem o tempo de trabalho forçado.
  3. Crime de Lesa-Humanidade (em seus efeitos): A escravidão é um crime contra a humanidade. O ato de destruir deliberadamente as provas de um crime desta magnitude é uma continuação do próprio crime, garantindo a impunidade dos perpetradores e perpetuando o dano sobre as vítimas.

 

As Histórias que Ruy Barbosa Não Conseguiu Queimar

 

Felizmente, a tentativa de apagar nossa história não foi totalmente bem-sucedida. Uma pesquisa da Unesp em Araraquara (SP) revelou uma vasta coleção de escrituras de compra e venda de escravizados do século XIX, resultando no livro “A História Comprovada: fatos reais e as dores da escravização araraquarense”. A obra demonstra que, apesar da ordem de Ruy Barbosa, documentos cruciais sobreviveram. O antropólogo Dagoberto Fonseca, professor da Unesp, destaca a importância do achado, considerado o maior acervo do gênero na América Latina: “É de suma importância tornar pública essa documentação. (...) só a partir daí buscar reescrever a história do Brasil”.

 

Onde Encontrar Nossa História: Um Guia para o Resgate da Memória

 

A busca por nossa história é uma jornada possível e necessária. Existem diversos espaços e ferramentas dedicados a preservar e difundir a memória afro-brasileira:

  • Museus e Exposições:
  • Locais de Memória:
    • Cais do Valongo (Rio de Janeiro, RJ): Sítio arqueológico e Patrimônio Mundial da UNESCO, foi o principal porto de entrada de africanos escravizados nas Américas. Visitar o local é uma experiência profunda de conexão com a história da diáspora.
    • Pelourinho (Salvador, BA): O centro histórico de Salvador é um museu a céu aberto, onde cada rua conta uma parte da história da resistência e da cultura negra no Brasil.
  • Referências Bibliográficas e Audiovisuais:
    • Livros: "Um Defeito de Cor" (Ana Maria Gonçalves); "Torto Arado" (Itamar Vieira Junior); "Pequeno Manual Antirracista" (Djamila Ribeiro).
    • Filmes e Documentários: "Doutor Gama" (2021); "Medida Provisória" (2022); "Guerras do Brasil.doc - Ep. Escravidão e Racismo" (Disponível em streaming).
    • Podcasts: "História Preta", "Projeto Querino".

 

O Arcabouço Legal e a Luta Contínua

 

A luta do movimento negro construiu um arcabouço legal que serve como escudo e como base para a reparação, incluindo a Constituição de 1988, a Lei 10.639/03, o Estatuto da Igualdade Racial, a Convenção Interamericana contra o Racismo e a jurisprudência do STF (como na ADPF 186). A vitória mais recente, o acordo histórico da Educafro com a AGU (2024), que resultou no primeiro pedido formal de desculpas do Estado brasileiro pela escravidão, é um marco que abre caminho para novas conquistas.

 

O Movimento como Força de Restauração: Como Fazer Parte

 

Se o apagamento foi um projeto de Estado, a restauração é uma tarefa de nossos movimentos. A Educafro, ao criar "Quilombos de Memória" e lutar por reconhecimento legal, pavimenta o caminho. Você pode fazer parte:

  1. Apoie a pesquisa histórica: Divulgue iniciativas como a da Unesp.
  2. Seja o historiador da sua família: Converse com os mais velhos, explore arquivos e utilize a tecnologia para buscar suas raízes.
  3. Posicione-se politicamente: Cobre políticas de reparação e apoie organizações como a Educafro.

A fogueira de 1890 foi alta, mas não consumiu todas as evidências da nossa história. A luta pela memória e pela reparação continua, fortalecida por cada novo documento encontrado e por cada voz que se levanta para exigir justiça.


Este artigo foi produzido a partir da unificação e reprodução parcial de informações contidas nos textos: "A destruição dos documentos sobre a escravidão", publicado em O Estado de S. Paulo - Acervo; e "As histórias que Ruy Barbosa não conseguiu queimar", publicado no Jornal da Unesp.

Redação - Este artigo não representa posições da instituição Educafro Brasil diretamente, os artigos se referem a reprodução parcial de artigos e repercussões públicas.


A Fênix Negra e a Liberdade Frágil - Rememorando O Abolicionista Luiz Gama

 

Agosto é o mês em que celebramos a memória do nosso patrono, Luiz Gama, um farol de estratégia e coragem. Para honrar seu legado, iniciamos hoje uma série de artigos que, nesta edição, caminhará lado a lado com uma das mais importantes produções sobre sua vida: a temporada "O Plano", do podcast História Preta.

 

Imagem gerada por IA simbolizando a chegada de Luiz Gama aos 17 anos no Cais do Valongo

Para entender o gigante, é preciso conhecer o menino. A história de Gama começa nas ruas vibrantes e complexas de Salvador. Ele nasceu em 21 de junho de 1830 na Rua do Bângala, no coração da cidade, uma região de intensa atividade da população negra livre e escravizada. Como ele mesmo descreveria anos mais tarde em sua célebre carta autobiográfica a Lúcio de Mendonça, ele era filho de Luiza Mahin, “negra, africana livre, da Costa da Mina (...) pagã, que sempre recusou o batismo e a doutrina cristã”.

Sua história, como o podcast História Preta brilhantemente narra em seu primeiro episódio, é a de uma "Liberdade Frágil". Nascido livre, Luiz Gama não deveria conhecer o cativeiro. No entanto, a traição de seu próprio pai, um fidalgo português que o vendeu como escravo aos 10 anos para pagar uma dívida, revelou uma verdade brutal: no Brasil escravocrata, a liberdade para o nosso povo era um estado precário, constantemente sob ameaça.

Read more