A Educafro, em conjunto com outras lideranças do movimento negro brasileiro, marcou uma posição firme durante o evento internacional “Economia de Francisco“, em Assis, na Itália. Em uma carta direta ao Papa Francisco, nossos representantes e aliados exigiram que a Igreja Católica assuma um papel de protagonismo no combate ao racismo sistêmico, uma barreira que impede a construção de qualquer economia verdadeiramente justa e fraterna.
A iniciativa, que contou com a participação de figuras proeminentes ligadas à nossa organização, como o fundador Frei David Santos, o ativista Samuel Emílio e a advogada Dione de Assis, não deixou dúvidas: para transformar a economia, é preciso antes transformar a mentalidade e as estruturas que perpetuam a desigualdade racial.
A Urgência de Políticas Concretas
A mensagem entregue ao pontífice foi clara: o debate sobre a economia não pode ignorar a realidade da população afro-brasileira. A carta reivindica que a Igreja e seus líderes apoiem ativamente plataformas políticas com políticas afirmativas robustas e que atuem para prevenir a perseguição, a violência e o assassinato de lideranças políticas negras no Brasil.
Os casos de Marielle Franco, brutalmente executada em 2018, e do vereador Renato Freitas, que teve seu mandato cassado em Curitiba, foram destacados como exemplos trágicos da urgência dessa demanda. Conforme apontou nosso ex-coordenador Samuel Emílio, “não há proatividade da Igreja quando se trata de confrontar o racismo sistêmico”. A falta de uma mobilização mais contundente da Igreja em defesa de Freitas demonstrou que ainda há um longo caminho a ser percorrido.
Uma Economia Antirracista é o Único Caminho
Para a Educafro, a luta por educação e inclusão no mercado de trabalho está diretamente ligada a um novo modelo econômico. Dione de Assis, advogada formada com bolsa da Educafro e especialista em economia, ressaltou que a construção de uma economia mais inclusiva depende fundamentalmente do debate racial.
“Cabe a nós, do Brasil, enfatizar o tema racial para propor uma nova economia realmente transformadora”, afirmou Dione. Ela destacou que, enquanto o setor privado avança na pauta racial através das agendas ESG (Ambiental, Social e de Governança), é preciso trazer essa reflexão para dentro da Igreja, incentivando ações concretas nessa direção.
Um Chamado à Transformação Interna da Igreja
A voz de Frei David Santos, um dos fundadores da Educafro, ecoou o sentimento de urgência. Ele alertou que a Igreja Católica precisa mudar sua mentalidade e respeitar os católicos afro-brasileiros de forma genuína, antes que uma migração em massa para outras denominações, onde se sentem mais acolhidos e com mais oportunidades de liderança, se torne irreversível.
A participação da Educafro no “Economia de Francisco” não foi apenas um ato simbólico. Foi um passo estratégico para internacionalizar a pauta racial brasileira e para cobrar de uma das instituições mais influentes do mundo uma postura ativa e coerente com a mensagem do Evangelho.
A luta por um futuro mais justo e igualitário continua, e a Educafro seguirá na linha de frente, ocupando todos os espaços necessários para garantir que a voz da população negra seja ouvida e que ações concretas sejam tomadas.
O artigo original pode ser lindo integralmente no portal Cruxnow
https://cruxnow.com/church-in-the-americas/2022/09/afro-brazilians-say-race-needs-to-be-addressed-by-pope-at-economy-of-francesco
